Clássicos em Cena – 8.ª edição

Gil Vicente é o ponto de chegada de uma tradição dramática medieval portuguesa que, sem perder a sua identidade, foi sensível aos alvores do Renascimento no teatro.
A apresentação da trilogia vicentina Tragicomédia de Dom Duardos, Farsa de Inês Pereira e Auto Pastoril Português decorre de estas três obras terem sido apresentadas na corte no ano de 1523, assim como da novidade que cada uma delas manifesta.
Esse glorioso 1523 confirma Gil Vicente — então com cerca de sessenta anos — como dramaturgo e permite-nos, com todo o sentido e propriedade, celebrar a efeméride da passagem de meio milénio sobre a estreia destas obras.  Também a ideia de um Gil Vicente retratista do seu tempo deve ser revisitada, apresentando-o como um dramaturgo intemporal e moderno, que tem muito a dizer à nossa contemporaneidade. Atendendo a que o texto dramático é inseparável da prática teatral, que cada época reinventa, a dramaturgia do texto e a encenação são, em si, um caminho de conhecimento. Seja qual for a abordagem do encenador e sabendo que há muitas maneiras de encontrar formas novas para problemas antigos, pugnamos por um respeito pelas obras que não desvirtue o propósito inerente do texto.